6 perguntas sobre o “Bestiário Maçónico”, o último livro de Luis de Matos

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De onde surgiu a ideia de fazer uma compilação dos animais simbólicos presentes nos ritos Maçónicos?

Já foi há uns anos. Estava a estudar o simbolismo do Leão, porque faz parte central do Rito Escocês Rectificado, que me interessa especialmente. Há muitos dicionários maçónicos e simbólicos, mas a maioria das vezes não ajudam muito. Por exemplo, em quase todos os casos, relativamente ao Leão, referiam que estava num quadro do 4º grau do Rito Escocês Rectificado, junto a uma legenda em latim. Ora, isso já eu sabia. Era por isso que procurava o significado… Era como ir a um guichet de informações perguntar como chegar ao Rossio e dizerem que fica na Praça D. Pedro IV, também conhecido como Rossio, bastando para tal dirigir-me ao Rossio!… Outros dicionários entravam na vertente alquímica, com a relação entre o Leão e os ácidos. Certo, certo. Mas é na Maçonaria? De onde aparece. O que significa? Que motivo levou a que fosse ali colocado? O livro surge então numa tentativa de responder a esta questão. Aos poucos começaram a aparecer outros animais e, puxando pelo fio, fui encontrando mais e mais. No início ainda pensei que já haveriam Bestiários Maçónicos publicados. Há uma sólida tradição de Bestiários Medievais muito interessantes, quer do ponto de vista lendário, quer iconográfico. Mas não encontrei, quer em Portugal, quer nos estrangeiro, nenhum que fizesse a lista dos animais que aparecem nos rituais da Maçonaria e o seu significado. Isso tornou o projecto ainda mais aliciante. Depois falei com o pintor Pedro Espanhol, desafiando-o a criar uma sequência de quadros sobre o mesmo assunto, visto da sua perspectiva muito única. A capa do livro faz parte dessa sequência. No fundo é um contributo muito simples e muito inicial para uma área de estudo ainda não sistematizada. Espero que o livro inspire outros autores a ampliarem não só a lista de animais, como o seu significado. Fica o convite.

Os rituais maçónicos referem assim tantos animais, que cheguem para um livro?

Sim. De facto inicialmente pensei em fazer apenas um artigo de fundo para alguma das publicações em que colaboro. Mas este trabalho obrigou-me a voltar à sequência de graus dos muitos sistemas de ritos e altos graus da Maçonaria. Muitos não são praticados em Portugal. Outros já não estão em uso em nenhum lugar do mundo. Foram muitos meses a decifrar rituais, imagens, esquemas simbólicos, catecismos de graus, manuscritos. Aos poucos apareciam os animais. O livro refere 32 diferentes, a que se acrescentam 3 ordens de seres sagrados, além de fazer um estudo acerca da evolução dos Altos Graus maçónicos e do uso de animais como artifício simbólico. Quando dei por mim, estavam escritas quase 300 páginas. Tivemos de usar um formato de livro maior, não apenas por causa das ilustrações, como pelo texto, conseguindo reduzir assim a 250 páginas. Durante os últimos anos trabalhei para uma empresa americana de videojogos e as longas viagens de avião sobre o Atlântico e na Europa foram uma constante. Uma porção significativa do livro foi escrita em aeroportos à espera do voo e no ar! A revisão final foi feita em tempo de retiro próximo de Tomar.  Ainda assim é o livro mais volumosos que escrevi até agora.

Quais são os animais mais conhecidos usados simbolicamente nos graus maçónicos?

O Rito Escocês Antigo e Aceite apresenta dois que quase todos leitores reconhecerão de imediato: o Pelicano e a Águia Bicéfala. São símbolos tão antigos e tão polissémicos que os encontramos em muitos outros contextos. O Pelicano, por exemplo, é o símbolo do Montepio Geral, instituição criada por maçons no século XIX. Já a Águia Bicéfala aparece como símbolo proeminente na Igreja Ortodoxa, sendo frequente vê-la coroando cúpulas na Rússia. O símbolo tem um significado arquetípico, que é o seu eixo simbólico. Depois tem um significado contextual, dependendo de como é usado relativamente a outros símbolos. Os ritos maçónicos tomam muitas vezes o significado arquetípico e depois expressam mensagens simbólicas própria nos diversos graus. Um exemplo é o Cordeiro, usado frequentemente. Em alguns casos, como no Rito Escocês Antigo e Aceite, aparece como o animal que repousa sobre o livro lacrado com os Sete Selos, tal como referido no Apocalipse. Noutros, como no caso do Rito Escocês Rectificado, aparece em glória, com o estandarte da Jerusalém Celeste. O Rito de Mamphis-Mizraim, de inspiração Egípcia, vai igualmente buscar vários animais, entre eles a Fénix, símbolo da imortalidade. Já referi o Leão, podia ainda referir a Abelha com o a sua colmeia e a Serpente, que encontramos muitas vezes na rica iconografia de aventais setecentistas, em quadros de Loja e outras fontes mais efémeras, como convocatórias aos trabalhos, circulares, diplomas, jóias distintivas, etc.

Sendo o simbolismo maçónico essencialmente geométrico, porque recorreram os maçons ao simbolismo animal?

O simbolismo geométrico e arquitectónico é a base de todo o simbolismo maçónico. Ele é usado para expressar as leis que governam o Universo e enquadrar o Homem na criação como um ser que participa de uma dada ordem das coisas. “Ordo ab Caos”, motto presente no Rito Escocês Antigo e Aceite, reafirma essa noção. Deste modo, a geometria, imutável e baseada em princípios verificáveis e constantes, dá um vislumbre sobre o Universo. Mas o processo iniciático, de aperfeiçoamento e melhoramento interior, tem como objecto o Homem. E ele é totalmente fluido e volátil. Está em permanente mudança, mimetizando-se em “pessoas” distintas ao longo da sua vida e enfrentando dentro de si versões rebeldes e desobedientes de si mesmo. Quem já tentou deixar de fumar sabe que é assim. Quem já se deu por si em situações – boas ou más – sem que percebesse como ali chegou, sabe que há camadas ou níveis de consciência de si mesmo e das decisões sobre si mesmo que variam com o tempo, o lugar e o contexto. Umas vezes esse “eu consciente” é suficientemente capaz de tomar decisões racionais. Outras vezes é obscurecido, num processo de eclipse, por um outro “eu”, menos racional, que tendencialmente toma decisões ligadas à herança animal que carregamos em virtude da evolução que levamos neste planeta. São decisões instintivas, que fazem um by-pass à racionalidade. E em geral são essas que nos conduzem a intermináveis problemas. Ora, desde há muitas gerações que essa natureza animal, inconsciente e maioritariamente instintiva, é simbolizada por animais. Todos sabemos que Ricardo Coração de Leão não era um cobarde. Todos sabemos que Cristo é “o Cordeiro de Deus”. Todos queremos que o nosso jogador de futebol favorito seja “uma fera”, mas sabemos bem que, quando as coisas correm mal, “os ratos são sempre os primeiros a abandonar o navio”. A tradição de usar os animais como metáforas e, em seu redor, construir alegorias sobre o comportamento humano, é longa e antiga e a Maçonaria foi beber a essa fonte tradicional.

Houve algum animal que o surpreendesse?

Sim. Eu sabia que o simbolismo da Serpente era muito versátil e muito usado em todo o tipo de contextos. Contudo não esperava encontrar tanto material simbólico à minha disposição. A imagem que transparece da maneira como a Serpente  foi usada simbolicamente surpreendeu-me. Bastará dizer que ela, ao mesmo tempo, é temida pelo veneno mortal e usada como símbolo da farmácia… Doença, morte e cura ao mesmo tempo. É o animal que acompanha os sábios e que é esmagado como o mal absoluto pelos santos. Essa contradição aparente é muito interessante. Surpreendeu-me também o uso da Borboleta no 5º grau do Rito Escocês Antigo e Aceite. É associada ao sopro vital que é exalado pelo Mestre Hiram ao morrer. A imagem é muito poética e em algumas jurisdições – em Portugal este grau é comunicado e não praticado – é cantado um Hino Fúnebre muito inspirador, que publico no livro.

 

O que pode o leitor aprender com este Bestiário?

O leitor em geral pode perceber como e porquê os animais foram usados como símbolo desde tempos imemoriais para transmitir alegorias sobre o comportamento humano inconsciente. Todos os que se interessam por simbolismo, em qualquer vertente, têm aqui muito que explorar. Quem se interessa pela condição humana e pelos seus desafios civilizacionais, culturais, religiosos ou espirituais, poderá enquadrar muitos deles pelo modo como os animais foram usados para os melhor definir. A superação de cada indivíduo, a busca da consciência universal, o domínio de si mesmo, a ligação à natureza cada vez mais afastada e perdida, a responsabilidade da espécie humana no contexto de todas as outras espécies como um cuidador, entre outros temas, encontram no Bestiário Maçónico amplo material de estudo. Para o leitor que, além de se interessar por simbolismo, seja maçon, o livro é um guia acerca de uma categoria simbólica particularmente ignorada e, embora presente nos rituais e profundamente importante para a compreensão da Ordem, raramente abordada no seu todo. Nem tudo são compassos e esquadros!…

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“Bestiário Maçónico”, por Luis C. Matos

Edições Nihil Obstat

Preço: 24,50€  19,95 € (até 30 de Novembro 2015)

Mais informações e encomenda de exemplares: Emial para ihshi@mail.com

Abertas as inscrições para a nova edição do Curso Livre – Templários e Templarismo

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INSCRIÇÕES ABERTAS

Aulas: Sábado 5 de Dezembro e Sábado 12 de Dezembro
Total: 20h

Nova edição do Curso “Templários e Templarismo I” na Universidade Lusófona.
Seguido de “Templários e Templarismo II”
Prof. Alexandre Honrado e Luis de Matos

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
Universidade Lusófona – Lisboa

Informação: ihshi@mail.com

Universidade Lusófona Curso Livre – Templários

Parte 1 – A Cavalaria – Da Milícia armada à Milícia de Cristo

– A Cavalaria Origem, fundamentos, contexto; Heranças: a Instituição, Equites Romano, invasões bárbaras; migração da Tradições Oriente para Ocidente, do homem armado a cavalo ao Cavaleiro; Heranças: Metafísica, migração do ideário de Cavalaria da Ásia para a Europa pelo Médio Oriente (séculos VI a XI); Cruzadas; a Nova Milícia de Bernardo de Claraval

– Templários O Cavaleiro-Monge; motivações, fundamento espiritual, a simbólica, raízes Bíblicas do arquétipo, veterotestamentárias e neotestamentária, raízes tradicionais e os três votos, raízes esotéricas e iniciáticas, o selo templário

– Cristianismo Esotérico História do Cristianismo e heresias (gnosticismos, maniqueísmo, catarismo); Cristianismo Copta; Escola de Alexandria, fundamentos, tratados e teologia; Islão Místico; Pontes entre Templários, Cristianismo Copta e o Islão; Noção da Gradação na Exegese Bíblica, três níveis e três Igrejas; a corrente Joanita e sua simbólica; Jerusalém e a Nova Jerusalém

– Traços de Cristianismo Esotérico na Ordem do Templo Arquitectura, iconografia, literatura, liturgia.

Sintra fecha o ciclo – O que vale a Pena

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Aos poucos, puxado pelos amigos que se iam inscrevendo e, por um motivo ou outro, não conseguiam estar presentes, fui acrescentando datas ao Calendário de Visitas das Aulas Livres. “Não conseguir ir à Pena! Quando é que vais repetir?”, diziam. “E a Regaleira?”, insistiam. Como não devo ter disponibilidade para repetir algo deste género nos próximos tempos, lá fui aceitando os desafios, semana após semana. Esta semana irá chegar ao fim o ciclo actual de Visitas e Aulas e já abordámos tantos temas e usámos os locais e edifícios históricos como pretexto para tanta filosofia que parece que estou a regressar a casa de uma longa viagem ao regressar à Pena! De Dante a Platão, de Pessoa a Lima de Freitas, de Percival a Galaaz, de lugar em lugar, ideia em ideia, questão em questão, enquadrando os lugares, as doutrinas, as perplexidades. Muito ficou por dizer e muito por observar. Mas a paixão pelos lugares ficou patente. E feliz fui ao ver a paixão compartilhada por tantos.

A eles, obrigado!

 

Aula Livre – Mosteiro dos Jerónimos

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Nova data: 7 de Junho 2015

Perto do local onde o Infante D. Henrique, em meados do séc. XV, mandou edificar uma igreja sobre a invocação de Sta. Maria de Belém, quis o rei D. Manuel I construir um grande Mosteiro. Para perpetuar a memória do Infante, pela sua grande devoção a Nossa Senhora e crença em S. Jerónimo, D. Manuel I decidiu fundar em 1496, o Mosteiro de Sta. Maria de Belém, perto da cidade de Lisboa, junto ao rio Tejo. Doado aos monges da Ordem de S. Jerónimo, é hoje vulgarmente conhecido por Mosteiro dos Jerónimos.

A visita irá concentrar-se na vertente mitológica e simbólica do incontornável monumento. Iremos explorar o contexto histórico das Descobertas, bem como da época da sua construção sob a Dinastia de Avis. Iremos conhecer melhor os construtores e artífices, o programa iconográfico e, na senda de António Telmo na sua pioneira “História Secreta de Portugal”, navegar os claustros e os seus mistérios, indo até onde a conversa nos levar. Não esqueceremos Camões e Pessoa.

A visita terá lugar no dia 17 de Maio, iniciando-se pelas 14h30 e terminando 18.30h, sendo guiada por Luis de Matos (ver: universatil.wordpress.com).

As inscrições são limitadas e devem estar concluídas até dois dias antes da visita por imposições logísticas do próprio Mosteiro.

A visita tem um custo de 10€ por pessoa + entrada no monumento* (ver: mosteirojeronimos.pt)
Inscrições prévias: ihshi@mail.com

* para alunos do Curso Livre Templários e Templarismo da Universidade Lusófona, bem como membros da OSMTHU a visita é gratuita e apenas devem pagar a entrada no monumento, contudo DEVEM INSCREVER-SE de modo a garantir a participação.

Templários e Templarismo

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Curso – Templários e Templarismo

 UNIVERSIDADE LUSÓFONA

Professores: Alexandre Honrado | Luís de Matos

Curso presencial

6 Quintas-feiras das 20h às 22h
12 horas lectivas
Início a 4 de Fevereiro
Custo: 75 Euros

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Extinta há quase 700 anos, a Ordem Militar e Religiosa dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, vulgo Ordem do Templo, tem características históricas únicas e é quase um mito urbano.

Entre outros atributos, é-lhes conferida a responsabilidade de esconder o Santo Graal, administrar uma fortuna enorme, de serem uma sociedade secreta, capaz dos atos mais bárbaros para angariar poder

De pequeno grupo com apenas nove membros em 1118, em menos de dois séculos transformou-se na mais poderosa organização da Europa, com propriedades em vários países e com uma capacidade financeira que lhe permitiu, até, emprestar dinheiro a monarcas. Independente das hierarquias religiosas da época, na dependência direta do Papa, a Ordem do Templo gerou tantas invejas que não admira que, quando Filipe, o Belo, rei de França, resolveu persegui-la, tenham sido muitos os que a ele se aliaram.

A sua dramática extinção inspirou, também, histórias arrebatadas.

Este curso permite viajar até aos subterrâneos da memória, para conhecer, numa visão dupla, os “Templários e Templarismo” com Alexandre Honrado e Luís Matos, dois estudiosos do passado com visões distintas do mesmo tema.

Inscrições: 

http://www.ulusofona.pt/escolas-e-faculdades/fcsea/cursos-livres/curso-livre-templarismo.html

Livro “Breve História Sobre a Ordem do Templo em Portugal” na Amazon: 

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Em defesa da família tradicional: Que venham as espanholas!

Sai-me cada uma! Esta tarde sentei-me à mesa do meu café do costume pronto a ler o jornal do dia. Entre o café e o salgadinho lá fui passando as páginas. Verão sem notícias… Pouca coisa nova. Na penúltima página há uma crónica que me chama a atenção: “A extinção do não-lince ibérico”. Raio de título…

Cito partes, para nos entretermos:

“[O Público] noticiou que «pela primeira vez, um lince-ibérico, proveniente do programa de reprodução em cativeiro, teve crias em liberdade». Com efeito a fêmea Granadilla, nascida em Espanha e libertada em 2010, teve quatro crias. (…) A boa notícia ecológica é muito de saudar, dado o fundado receio de extinção desta raça ibérica.”

Chamando à colação um discurso de Bento XVI sobre a importância da ecologia, aproveitando o exemplo louvável da procriação em cativeiro do lince-ibérico, o autor passa ao que lhe interessa:

“Fecham-se, todos os anos, centenas de escolas no país, mas ninguém diz que é por falta de alunos (…). As entidades oficiais estão mais empenhadas na contracepção e no aborto livre do que na consolidação da família. Há milhares de professores no desemprego e os sindicatos pretendem que seja o ministério a resolver a sua difícil situação laboral, mas esquecem que nenhuma portaria ministerial pode “criar” os alunos que seriam necessários para justificar esses postos de trabalho.”

Esfreguei os olhos em descrédito… Eu não podia estar a ler aquilo! Queres ver que ainda defende que devia ser prioridade a criação de gente em cativeiro como a do lince-ibérico? Ou mesmo que seja em liberdade… Há mais incentivo ao aborto livre e à camisinha e o governo devia-nos meter na cama? Mas que coisa… Por isso o país não funciona! As entidades oficiais para ali empenhadas em que se use o contraceptivo e se possam fazer abortos à vontade do freguês e, claro, acto contínuo cai a natalidade e entalam-se os professores!… Afinal o mundo é tão simples, visto numa redoma de vidro.

Nã! Não podia ser sério. Era certamente a coluna do Ricardo Araújo Pereira, ou de outro comediante a provocar. Mas não! Pasme-se! É a coluna de opinião do meu já conhecido Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, Vice-Presidente da Conferderação Nacional das Associações de Família (CNAF) e licenciado em Direito, doutorado em Filosofia… Sim, aquele das invectivas contra a Maçonaria! Não há hipótese, este senhor parece ter tirado licença para me irritar… E não é que aquilo do lince em cativeiro e da falta de apoio à prociação humana era mesmo da sua lavra?

Continuei incrédulo (é que sou Cristão, Católico, praticante e fico com o rosário eriçado quando alguém em nome da minha religião coloca o Quod Erat Demonstrandum à tese de que os Católicos são imbecis que não vivem no mundo das outras pessoas, incapazes de serem racionais e inteligentes, cujo QI não ultrapassa a data das aparições de Fátima…):

“Do que se precisa realmente é de mais mães e de mais bebés e, para isso, são urgentes medidas que contrariem a trágica queda de natalidade.”

Um padre a defender a f%&a?! Bem, pelo menos o sexo, que eu não conheço outro processo natural de ter mais mães (e já agora, mais pais, senhor Padre, licenciado em Direito e doutorado em Filosofia?). O que é preciso é que f&%#am mais, meus filhos. Procriem, senão temos de ter medidas governamentais de apoio à procriação, como foi o caso dos linces. Deus nos valha.

A pouca vergonha… Antigamente é que era, famílias de 11 e 16 filhos, como a dos meus pais e avós. Aquilo era um regalo para o olho, às dezenas. Fo%&iam, fo%&iam e depois marchavam. Era em casa, nas casas da vizinhança, nas aldeias perto. Filharada de dúzia. E morriam sempre um ou dois antes dos 5 anos. Metade nunca ia à escola. O caçula ficava para padre. Isso é que era sociedade com a família a sério. Eram logo 14 baptizados, 12 primeiras comunhões, 8 casamentos e um ror de funerais. Não estou a dizer que o senhor Padre esteja a atribuir à falha de gente na Igreja de hoje a mesma causa da falta de alunos nas escolas. Têm de fechar igrejas? Tadinhas… Mas não é por falta de haver gente. Porque a razão é outra, senhor Padre. Não é a falta de família. A que há chegava. É a falta de direcção espiritual credível e que responda à família de hoje. Isso é que é. Mas voltando aos “incentivos à procriação”, tão longe das prioridades deste governo, o meu avô Isaac, que já lá vai, esse sim, era um dos que não precisava de incentivo do governo. Só com a mulher que lhe aturou o alcoolismo até à morte teve mais de meia dúzia, bom cristão, que não sabia o que era a contracepção e criou alunos que encheram as escolas das redondezas durante anos, dando trabalho aos professores, alguns com proles respeitáveis deles mesmos. Esse bom cristão que era o Isaac (com dois “aa”). Naquele tempo o interior do país povoava-se, não é como agora que não cumprimos o nosso dever.

Segue, alucinado pela sua retórica:

“A cura da tuberculosse converteu o Caramulo numa curiosa cidade-fantasma, onde as ruínas dos velhos sanatórios recordam uma numerosa população que, graças ao actual tratamento da doença, por meios que dispensam o internamento hospitalar, já não existe.”

É isso mesmo! Como foi que eu não vi? Pobre Caramulo… Abandonado, agora que aqueles “progressistas” comunistas inventaram maneiras de curar a tuberculose… E quem pensa no Caramulo? Quem? O Governo? Os Sindicatos? Quem? Vamos voltar a introduzir a tuberculose em cativeiro, para salvar o Caramulo.

“Não consta que as entidades oficiais, as organizações ambientalistas [!? por serem hippies irresponsáveis que passam o tempo a “fazer amor” pelos cantos e depois a fazer abortos livres? Será por isso que os ambientalistas deviam interessar-se por isto?] e a sociedade civil tenham ficado consciencializadas da gravidade da situação. Nem parece que estejam, por isso, seriamente empenhadas num aumento sustentado dos nascimentos (…)”.

Não posso ficar calado, senhor Padre, licenciado e Vice-Presidente da CNAF. Está o senhor sensibilizado para o problema? Tem cumprido a sua função de procriador? Está consciente “da gravidade da situação”? Faça-me um favor, em nome deste Católico (será que serei o único?), quando for para dizer estas barbaridades estúpidas, não apareça com batina de padre nas fotos e não esqueça que se representa a si sozinho, mesmo quando um certo número de famílias não têm coragem de o mandar bugiar porque não se revêem nas suas continuadas palermices.

Mas, que digo? Devo penitenciar-me. Devo pedir desculpa. Uma figura respeitada. Da Igreja! E eu que nem sou doutorado em Filosofia e falo do que não sei…

Sabe que mais, Padre Gonçalo, estou consigo!

Eu devo penitenciar-me porque sou um dos responsáveis pela situação. Eu e a minha senhora só tivemos um rebento. Um rapaz. Tem 14 anos e ainda não engravidou nenhuma miúda por aí, mas mantemos esperanças. Que raio! Abortos nem pensar. Contraceptivos ainda menos. Vai ver que a nova geração vai ultrapassar a minha. Mas não me conte já acabado. Fazemos um trato, que tenho amigos que seguirão comigo. Tal como na questão do lince-ibérico, que tão astutamente usa como paralelo (de génio, senhor Padre), ofereço-me com uns amigos para um programa de repovoamento pago pelo estado (ou pela Igreja, porque não? Deve ela estar ausente deste problema com luminárias como o senhor? Deus nos livre!). Fazemos “área reservada do homem-ibérico”, mandam-se vir umas espanholas e lhe garanto que em menos dos dois anos que demorou aos linces lamberem as patas de contentes, nós estamos a procriar que nem malucos. Tudo dentro da decência, sem abortos e sem contraceptivo. “Au naturel”, senhor Padre, que nisso concordo consigo – que se vê ser gente que sabe – é muito melhor e Nosso Senhor não se ofende.

Que venham as espanholas!

Só me pergunto, com tanto homem e mulher de Igreja inteligente, capaz, influente, bem formado humanamente e com uma visão justa e de experiência dos problemas, como é que o Público dá meia página a esta verborreia pseudo-católica retrógrada e minoritária numa Igreja que é a que professo? Deus só pode estar a dormir ou então é um gozão de primeira!

Acho que é esta última.

Museu Roerich

Tive a oportunidade de visitar há duas semanas um dos museus mais interessantes e surpreendentes que conheço. Trata-se do Nicholas Roerich Museum, em Nova Iorque. Está numa tranquila rua no Upper West-Side, numa casa de três andares onde o conhecido pintor e místico russo viveu.

O Museu Nicholas Roerich alberga uma importante colecção de quadros, desenhos, objectos de arte e manuscritos da autoria de Roerich e de sua esposa, Helena Roerich. É também a sede internacional da Agni Yoga Society, fundada nos anos 20 por Nicholas e Helena. Sem uma estrutura rígida, sem formulário de filiação, estudos, graus ou quotizações, o Agni Yoga pode definir-se como o Yoga do Fogo, ou da Consciência, uma síntese entre o conhecimento tradicional oriental e o pensamento ocidental moderno, uma ponte entre o domínio do espiritual e do científico.

Embora conhecesse já há muitos anos não só a pintura de Nicholas Roerich como a notável série de livros sob a designação Agni Yoga (que aliás invoco no meu “A Maçonaria Desvendada”), a visita causou-me tal impressão que estou a elaborar uma apresentação que deverá vir a dar uma Conferência lá para o final do ano e talvez uma publicação. Há dias fiz uma pré-apresentação a um núcleo mais restrito no Instituto Hermético e foi uma noite muito bem passada!

Ficam alguns exemplos do trabalho de Nicholas Roerich. Click nas imagens para ver em alta resolução.

Path to Shambhala. 1933

Sophia—the Wisdom of the Almighty. 1932

Madonna Oriflamma. 1932

Fechado para Retiro

Tenho estado estes dias em retiro espiritual com os monges beneditinos de São Domingos de Silos. A comunidade monástica de Silos é mais conhecida pela sua produção discográfica de Canto Gregoriano, tendo mesmo chegado aos mais altos lugares dos tops de vendas há una anos.

Sinceramente já estava a precisar de uma pausa. O ano de 2011 avizinha-se cheio de actividades e – assim o espero – êxitos. O ano de 2010 teve os seus momentos baixos (a inesperada partida da minha mãe terá sido o mais difícil), embora me proporcionasse alguns momentos altos, como as ordenações eclesiásticas em Fevereiro, o publicação do “Maçonaria Desvendada” em Maio e a criação do Instituto Hermético logo de seguida. Já para não falar no inesquecível momento que foi ver no Nassau Coliseum o espectáculo “The Wall” baseado no obra homónima dos Pink Floyd, que tanto me influenciou pessoalmente há tantos anos atrás. Quando Roger Waters passar por Lisboa em Março serei mais específico.

Precisava de uma pausa, é verdade. Deste modo estou a apreciar muitíssimo estes dias em São Domingos de Silos. De um momento para o outro não há carro, não há televisão, não há telefone, não há internet (faço este post durante um raro momento em que sou obrigado a ver os emails profissionais, momento que não toma mais que 10 minutos). O resto do tempo é pautado pela vida monástica. Silêncio total. Diálogo interior até se esgotar num foi de silêncio sagarado. Pouco antes das 6 da manhã ouve-se algum raro barulho distante. São os irmãos que se levantam antes do raiar do sol. Alguns passos apressados ecoam no cláustro do século XVIII, em direcção às escadas que levam ao cláustro do século XI, lugar ainda hoje de repouso de São Domingos de Silos, monge que por aqui assentou em 1041. O frio gélido do ar de Janeiro condensa a respiração dos monges, nos seus hábitos negros, como sombras na noite. Estão sete graus negativos. Amanhã a temperatura baixa ainda mais um pouco. Até os pássaros que habitam o velho cipreste do cláustro se mantêm em silêncio, aninhados entre eles. Às 6 em ponto a basílica cobra vida quando a voz grave de um dos monges dá o tom para o cântico invocatório. “Deus, vem em meu auxílio”, clamam as vozes em bruxuleante e trémulo latim, prosseguindo a sua prece num estilo gregoriano muito puro e indutor de uma espiritualidade elevada. São as Vigílias, cantadas antes do nascer do sol. Pelas 7.30 o colectivo monástico, agora já regressado de um momento de recolhimento e higiene pessoal nas celas, volta à basílica para as Laudas, agradecendo o dia novo que se abre à sua frente. Ao passar pelo cláustro velho a excitação enorme dos pássaros do cipreste não deixa ouvir os passos dos monges no chão milenar. O dia será dedicado ao serviço do Senhor e das boas obras. O cêntico em cada hora litúrgica canónoca torna o propósito ainda mais decidido e sublimemente altruista. Pelas 8h tomamos o pequeno almoço em silêncio. Burgos produz um queijo de sabor único e o repasto, simples, mas adequado, é bem recebido. Às 9h a hora Tercia é cantada com a Eucaristia. Impressiona a reverência dos monges ao altar, bem como a forma como as vozes em perfeita harmonia cortam o venerando silêncio. Dada a comunhão, é hora de se fazerem as tarefas do dia. Alguns irmãos iniciam a manutenção e limpeza do espaço monástico, outros perdem-se na biblioteca (são 150.000 volumes…), outros dirigem-se à horta comunitária. Eu regresso à minha cela com o companheiro de viagem que está comigo. As celas são individuais, simples, sem grandes luxos, mas confortáveis e funcionais. Têm aquecimento e casa de banho privada em cada uma. Para mim é tempo de estudo e trabalho interior. Os sinos tocam às 13.30h. Já me tinha esquecido como o som dos sinos me faz ficar nostalgico. De quê, não sei dizer. Mas a minha mente é transportada para um comprimento de onda muito bem marcado, que me é familiar, mas ao mesmo tempo temporalmente distante. Os sinos chamam a comunidade à basílica. É a hora Sexta, que precede o almoço. Os monges comeram à parte, num refeitório contíguo à cozinha. Ouve-se uma voz que suspende o silêncio. Um irmão lê passagens que me parecem do Evangelho enquanto os outros disfrutam da refeição. No nosso refeitório o silêncio é total. Só o ocasional toque de talheres na louça ou um copo que se pousa na mesa de madeira, mais do que cortar o silêncio, parecem sublinhá-lo ainda mais. A fruta de sobremesa é da horta e é excelente. Regressamos às celas. Eu aproveito para dormir uma curta sesta. Dali a pouco, às 4h, canta-se a hora Nona, o que deixa um pouco da tarde livre para mais estudo e introspecção antes das Vésperas, às 19h. Hoje foi dia de São Sebastião, titular da igreja de Silos. As Vésperas foram-lhe dedicadas. “Sebastiani Martyris almi patroni, supplices diem sacrátum vocibis canámus omnes débitis”. A Benção do Santíssimo Sacramento é particularmente bela e comovente. O coro canta um irrepreensível “Martir Egrégia”, que perdura na minha memória em infinito eco angélico. “O Senhor revestiu-o com um manto de glória” – dizem – “E sobre a sua cabeça colocou a coroa de vencedor”. Retirámo-nos para as celas depois de uma reverencial procissão até à capela de São Domingos (de cúpula octogonal, na cripta da qual está a Sala do capítulo do templo moçárabe primitivo). Era já noite escura e fria. Os pássaros do cipreste do cláustro tinham-se calado de novo. Um jantar leve e simples seguiu-se e eu recolhi à minha cela despedindo-me do meu amigo, não assistindo às horas Completas, pelas 21.35h. Por essa hora já eu estava mergulhado em leituras iniciáticas, com papel, caneta e muitos esquemas diferentes desenhados na mesa de estudo da minha cela.

Assim têm passado os dias. Não sou um beato ou rato de sacristia. Os que me conhecem sabem-no bem. Mas devo reconhecer que há muitos méritos em poder dedicar alguns dias, ainda que poucos e limitados, ao trabalho do Sagrado sob a orientação de irmãos, como nós, no caminho e, sabemo-lo bem, possuidores de muitas das chaves iniciáticas que às vezes insistimos em procurar em vão porque simplesmente não temos um coração suficientemente humilde para admitir que a Igreja, com todos os seus defeitos e virtudes, todas as suas faltas humanas e imperfeições temporais, possui tais chaves bem à vista de todos.

Assim, caros amigos e leitores, deixo-vos, deleitado pela melodia do canto gregoriano dos irmãos de Silos. Na semana que vem, a gente fala. No dia 29 não esqueçam as Jornadas do Hernetismo e do Sagrado em Lisboa. Até lá, não me liguem, não memandem e-mails, não me digam nada. Estou ao vosso serviço o ano inteiro. Mas este semana, deixem-me estar ao serviço do Mais Alto.

Que o Grande Arquitecto do Universo vos guarde.

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Ver aqui os monges de Silos

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De Viagem Mais Uma Vez

No dia 22 dou uma Conferência na Comunidade Portuguesa de Eubiose. Como o livro sobre Maçonaria só é lançado na semana seguinte, a 28 de Maio, decidi que o tema seria diferente.

Inicialmente pensava falar sobre Sinarquia. Não haveria melhor lugar. Mas esse foi o tema superiormente tratado pelo Dr. Olímpio Gonçalves num trabalho onde fala igualmente dos Templários – hoje disponível para membros e visitantes da Comunidade numa publicação em papel – e voltar a ele seria inevitavelmente ter de pisar muitos dos mesmos passos num assunto tão interessante, mas tão raramente tratado, quer em livro, quer em conferência. Tenho a aspiração de um dia – talvez não muito longínquo – fazer um colóquio sobre a Sinarquia onde se possam escutar os trabalhos de vários autores. Talvez então se desperte o interesse do público em geral para o tema.

Procurei então enveredar por algo novo, que não estivesse ainda feito e que fosse o mais possível um meio de falar um pouco do contributo único da Eubiose para a compreensão de alguns assuntos iniciáticos. Eles são tantos que acabei por escolher o tema da Portugalidade e da Alma Lusitana, entroncando-o nas pesquisas que me levam todos os anos a Trás-os-Montes e de que dei um exemplo aqui.

De facto, compilar algumas das informações que entretanto juntei e algumas perguntas que me surgem, explorando possíveis respostas, pode resultar num trabalho interessante. Tem-se publicado muito sobre o tema do dito “Portugral”, ou seja, da predestinação de Portugal para as Descobertas e da história misteriosa que envolve algumas das suas figuras magnas. Em minha opinião os livros têm-se copiado muito entre si e poucos factos novos surgem, ou quando surgem , falta a arte de saber perceber o que significam e como mudam eles os pressupostos que sempre tivemos sobre a nossa origem como país e a nossa missão no mundo. Tão pouco serei eu quem o possa esclarecer, mas penso ter uma perspectiva nova, diferente e interessante acerca do tema. Assim se verá.

Estava eu a procurar um nome (ainda não tenho o título final) e a rever as fotos que fui fazendo ao longo deste tempo, quando o meu amigo Cristóvão, começando a puxar-me pela língua, me levou a concluir que este trabalho ficaria muito incompleto se abordasse apenas Trás-os-Montes. Acabou por me persuadir a estender o âmbito do investigação e, logo ali, terminei não com um problema (esta conferência que se aproxima), mas vários! Acabei por me comprometer a escrever 9 (sim nove!) livros sobre os três principais Rios ibéricos que moldaram a nação e a sua influência iniciática em diversas épocas. Cada Rio terá três “viagens”, correspondentes a três momentos ou mesmo segmentos geográficos (ainda não sei). Ou, no mínimo, três grossos volumes em três partes, o que vai dar no mesmo. Com a complicação que é a minha vida profissional, cheia de viagens e três centros de actividade (Madrid, Nova Iorque e Lisboa, esta mais esporádica), estou a ver que terei de retirar muita inspiração de modernos terminais de aeroporto onde inevitavelmente acabarei por escrever a maior parte do trabalho. E isto já para não falar na recolha de elementos e trabalho de campo. Com o Douro, já lá vão dois anos (do lado de cá e do lado de lá da fronteira), com alguns milhares de quilómetros. Agora é só acrescentar o resto…

Deste modo, porque algumas das fotos que fiz não estão suficientemente boas para a Conferência de dia 22 e porque há alguns sítios que entretanto chamaram a minha atenção que necessito fotografar, parti este fim de semana para o Norte e comecei hoje pelo Porto, na Sé Catedral (os cláustros na foto acima). Já há uns anos que lá havia passado e com um olhar menos “clínico” houve logo coisas que me chamaram a atenção, nomeadamente uma sala em particular. Pude hoje confirmar que a intuição de então estava certeira. Compreendo hoje a obra feita por mais um dos obreiros caridosos na Nação Lusa de que os livros falam de passagem. O que aquelas paredes viram é-nos vedado. Mas intui-se bem pelos elementos simbólicos gravados no lugar.

Amanhã sigo em busca de uma lenda de Gémeos próximo de Mirandela. Talvez ainda lá estejam as marcas que o povo referia há menos de um século. E pela tarde quero ver se percebo a proximidade de Balsemão e da sua Senhora (obrigado Cristóvão mais uma vez pela explicação acerca da origem do nome) a uma lendária torre próxima que marcava o lugar onde uma família das mais ilustres da região se radicou ainda no tempo de Afonso Henriques. Toda a toponímia circundante nos fala de ilustres homens que terão conhecido a Terra Santa, quer em campanhas, quer por ser essa a sua origem. Nomes como “(…) dos Cavaleiros”, “Malta”, “Chacim”, “Gibelim”, entre outros, são disso mesmo testemunho. De tudo isto irei falar na Conferência.

Talvez a parte que mais interesse desperte é a que fala da nossa Tradição Iniciática milenar, a dos Caretos de Trás-os-Montes, reminiscência ancestral dos Nephilin vetero-testamentários. Terra de gigantes? Veremos. Se a viagem correr bem (quero regressar a Lisboa na 4ª feira) teremos muitas coisas interessantes para ver (mesmo vídeo) em projecção no dia 22.

Se alguem tiver sugestões de lugares a visitar, não hexite!

Proibido proibir

Começo a ter um limiar de tolerância cada vez menor para a estupidez.

Deve ser da idade.

Lá temos de voltar ao mesmo problema. Há quem, neste país, se aproprie do que é dos outros, como se fosse seu e ainda tem o descaramento de impor regras arbitrárias sobre a sua fruição!

Cito um documento que esta gente não deve conhecer, mas que fica bem na cultura geral de cada cidadão: a Constituição Portuguesa. Às páginas tantas diz, acerca do Património Cultural:

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“Artigo 78.º
Fruição e criação cultural

1. Todos têm direito à fruição (…) cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.

2. Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais:

a) Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de acção cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio; (…)”

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Mas quem é o pároco de São João Batista para espezinhar os meus direitos?!

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Será que ele não entende que está a usar o MEU PATRIMÓNIO, que tem o dever – como eu – de preservar, apenas e só porque há liberdade de culto em Portugal, aliás garantida pela mesma Constituição que me garante a mim que, quando o pároco não estiver a usar o MEU ESPAÇO para o seu culto (que até partilho, porque sou Cristão, praticante), esse espaço deve estar aberto ao acesso e fruição de todos os cidadãos (eu outra vez), nomeadamente, sempre que isso não coloque em causa a integridade do património, para que eu o possa fotografar, filmar e o dar a conhecer por mim mesmo?

Até porque se não o puder fotografar (como não consigo há mais de 20 anos sequer ver, quanto mais registar com a minha máquina sem flash o tríptico que está à guarda da mesma paróquia, que até posso supor já nem existir ou ser fragmento da minha fértil imaginação, já que não há traços visíveis dele há tantos anos!…), repito, se não o puder fotografar, como vou poder aferir se está a ser bem cuidado, se não foi roubado, se o tesouro que é de todos nós está, numa palavra, intacto? A inspecção popular faz falta. Demasiadas peças de arte sacra vão “para limpar” neste país e nunca mais regressam. Poder ter acesso e registar para uso privado é até uma protecção para os próprio párocos que, de outro modo, serão sempre os suspeitos de fazer desaparecer algumas das peças que têm expostas a troco de uns euros. Os casos estão aí. Não sou “mata frades”, pelo contrário. Mas é necessário que o património esteja aberto ao escrutínio dos seus donos (nós). Para que contrastemos registos, fotos, filmes. Para que possamos denunciar abusos. Não seria a primeira vez que, mesmo em Tomar, as paredes de pedra centenária de templos são agredidas com cravos e pregos por gente sem parafusos na época de pendurar decorações que nem sequer são litúrgicas. Liberdade de culto, sim, estamos todos de acordo. Mas com tento na cabecinha, que o património é de todos.

É pena que nisto, um país sem a nossa história como os Estados Unidos, nos dê uma valente lição. Ainda não publiquei aqui, mas lá iremos, as fotos das Catedrais de Washington e de São Mateus na mesma cidade, bem como da impressionante Basílica da Imaculada Conceição (também em Washington), esta última tão católica como São João Batista em Tomar. Pude fotografar, filmar, emocionar-me nas criptas, olhar de perto os frescos e as peças de arte, registá-las em filme e fotografia… Sem medos. Sem paranóias. Sem avisos estúpidos e obscurantistas. Acho que o melhor é começar a campanha: enviem São João Batista e Santa Maria do Olival para os Estados Unidos. Assim serão preservados, amados, abertos ao culto e ao público.

Tenho para mim que esta proibição inconstitucional e a tresandar a medievalista/inquisitorial no caso de alguma foto se bater, se destina precisamente a não permitir que os responsáveis possam ser chamados à atenção. Não há fotos, logo não há provas. Perdoa-lhes Senhor, que eles lá sabem o que fazem com o que é nosso.

Uma última nota: párocos destes, para quem o turista é um empecilho e o património que têm a seu cargo tem o mesmo valor espiritual de um abre-latas, são uma vergonha para a Igreja, que se quer Santa, que se quer Apostólica e próxima dos crentes. Cada vez creio mais em Deus e menos nestes impostores funcionários sacros de coração de pedra, que são a contradição em actos daquilo que o Evangelho é em palavras. Mal vai a Alma Lusitana quando permite anos a fio que a liberdade de culto seja confundida por energúmenos em batina com a Liberdade de ser Inculto.

Reservo-me o direito de me indignar. Ou agora esse também é proibido?…