Optimismo e Pessimismo

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EPISÓDIO XII – OPTIMISMO E PESSIMISMO

(excerto)

Alexandre Honrado (AH): Nós estamos num cenário predominantemente em fundo negro, estamos numa mesa em que o tampo é negro – não é que seja pessimista, essa é uma opção – depois estamos com dois copos lindíssimos, descartáveis, daqueles de supermercado, de plático, que depois de usados…

Luis de Matos (LM): Lá está o pessimista!  Estás a ver? O optimista diria que temos dois copos! É melhor do que beber da garrafa.

AH: Viste? E para acabar, eu estou com um cachecolinho vermelho, provavelmente porque estou com muito frio – principalmente não no pescoço porque tenho o cachecol – e tu tens uma gravata. Também diria que, admissivelmente na sociedade, quando se sai de casa com uma gravata é-se mais optimista ou mais pessimista? Isto é, “eu estou preparado para tudo”, inclusivamente para tudo, quando levo uma gravata, “eu estou descontraído” e muito mais optimista, posso nem sequer estar preparado para nada, mas vou conseguir sair vivo disto tudo e vou sem gravata nenhuma, só com um cachecolinho, se tiver frio.

LM: A forma como nos vestimos reflecte o que vai cá dentro.

AH: Era aí que eu queria chegar.

LM: Eu só posso falar de mim. Tanto me faz estar com grava ou sem gravata, estaria sempre confiante.

AH: Tens um mau gosto! Só podes falar de ti? Nós falamos sempre de toda a gente e agora só podes falar de ti? (ri-se)

LM: Não, não, não. Eu posso falar dos outros, agora é que não, que não fica bem…

AH: Ah! Agora apanhei-te.

LM: Apanhaste-me. No Facebook depois falamos dos outros.

AH: Falamos sempre dos outros.

LM: “Nós e os outros”

AH: Também temos um Facebook “Pérolas aos Poucos”. Este programa está a ser uma coisa… Rádio, televisão, Facebook… Parece um ministério.

LM: Complexo. Mas deixa-me ir à questão do destino porque às vezes temos a ideia de que o destino está pre-destinado e a predestinação tem que ver com aquilo que nós fazemos. Se há um determinado vector, uma força que nos empurra numa determinada direcção, é provável que possamos determinar o que vai acontecer. Se pensarmos um bocadinho acerca das causas, vamos encontrar o efeito. Já falámos disto várias vezes. O destino tem a ver com isso. Poderei mudar o destino? depende. Se as causas estiverem dentro do meu domínio de mudança, posso. Se as causas daquele destino que eu vou ter forem o mau mau comportamento, a como eu me esforço ou não me esforço, as relações sociais que eu tenho, se eu mudar tudo isso, vou mudar o destino seguramente.

AH: Há um outro raciocínio em cima desse que eu gostava que nós pensássemos juntos. Antigamente fazíamos planos a longo prazo. Dizíamos que tínhamos um futuro à nossa frente, fazíamos carreira, por exemplo, entre outras coisas. Isso  foi-nos retirado pela realidade – e pela realidade dos últimos tempos – portanto o triunfo de certas economia e do que é financeiro nessas economias se traduziu para nós nas crises, nas diversas crises. Ora, nós agora podemos fazer alguns planos, no máximo, para o fim de semana que vem. E fazemo-los, o que é engraçado. Não temos mais do que o optimismo do “eu vou-me divertir na Sexta-feira”. Marcamos encontro, sexta-feira à noite e divertimo-nos – muito! – até Domingo e na Segunda entramos em grande depressão e vamos pessimistas para aquilo que fingimos que é o nosso ganha-pão, em que nadamos a ver o que é que vai acontecer no dia seguinte, se ficamos com ordenado, sem ordenado ou sem emprego. Essa ideia do optimismo dos tempos de hoje e do pessimismo, também mudou completamente. Há uma correlação diferente em relação aos paradigmas.

LM: Essa é a importância do tema.

AH: Ah!

LM: No momento em que nós estamos, é importante ser optimista ou ser pessimista?

(continua)