Do Vale à Montanha – No Trilho de Nicholas Roerich

ENTRADA LIVRE

Um percurso iniciático pela obra do pintor e místico Russo Nicholas Roerich. As Tradições Secretas dos Himalaias, Shambballah, e o Encoberto.

“Trabalho para uma empresa de Nova Iorque e desloco-me aquela cidade com frequência. Numa das última vistas apercebi-me que há um Museu Nicholas Roerich aberto ao público numa das casas onde o conhecido pintor Russo viveu enquanto esteve nos Estados Unidos. Entre reuniões e agendas, abri um final de manhã para visitar o Museu. Embarquei então no que acabou por ser uma inesperada vertigem, genuína viagem a um recesso de mim mesmo, às profundezas ocultas de uma memória que não tenho de coisas que nem sei se vivi. Nada me podia preparar para o contacto directo com a obra de Roerich. Do vale à montanha, da superfície ao interior das cordilheiras. Quando me encontrei comigo, já tinha regressado a Nova Iorque e ao barulho da cidade metropolitana. O que tinha acontecido? Nem sei bem…” (Luis de Matos)

COMUNIDADE PORTUGUESA DE EUBIOSE
Rua António Sérgio 3A
Algueirão
(Junto à Estação da CP)

Mapa: http://www.cpeubiose.org/local/morada.htm

Eubiose: http://www.cpeubiose.org/
Luis de Matos: https://universatil.wordpress.com/2012/05/10/museu-roerich/

Fons Vitae – Resumo da Conferência na Comunidade Portuguesa de Eubiose

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O Rio

Verdadeiro cordão umbilical que liga ao centro da Terra, o Rio sempre foi a FONS VITAE dos povos desde a antiguidade. Assim como o Ganges e o Indo moldaram a Índia no plano corporal e espiritual, assim como a grande Mesopotâmia floresceu entre o Tigre e o Eufrates e como o Nilo imprimiu ritmos e vigor ao Egipto e à sua misteriosa civilização, assim também o Douro, o Tejo, o Guadiana e seus afluentes definiram o Portucalem desde sempre. Desde tempos tão afastados como aqueles em que antigas gentes desenhavam os seus totens nas fragas das margens do Côa e em grutas de Vilarinho, a que o povo chama as Fragas do Diabo junto ao ribeiro, onde velhos pastores se abrigavam das intempéries “desde o tempo em que os animais falavam”, como poeticamente o Transmontano chama à mais remota antiguidade.

Os grandes caudais aquíferos do Douro e Tejo partem o país em três regiões bem distintas. Separam, ainda que a Alma seja comum. O Guadiana traça a fronteira entre o Oriente e o Ocidente. O corpo da terra mãe dos Lusitanos de muitas idades (e de muitas Idades) habituou-se a viver entre estes limites, amando-os profundamente como só um filho pode amar a sua mãe. O Alentejano pode viver em Lisboa, mas o seu coração bate à cadência do dourado ondular das searas e do ruminar dos bezerros travessos. O Transmontano passa a sua existência em Coimbra, no Porto ou na “estranja” – onde a profissão o levou – como um exilado, em solitário degredo de obstinada nostalgia dos tempos de menino, dos caminhos de terra batida, do som dos cascos de cavalos nos paralelepípedos húmidos da noite de orvalho, do cheiro da chuva na terra seca naquelas terdes quentes de Julho, a fugir das avós, sempre de aventais de linho estampados a azul e renda imaculada – eternas Gatas Borralheiras do solo pátrio. São ambos a expressão genuína da Saudade. A água das memórias primordiais que correm nas veias do planeta, como nos vales profundos de cada ser humano, da montanha ao mar, da alva neve à negra voragem abissal. Espelho das almas.

Os Rios ocupam lugares centrais em muitas religiões e tradições mitológicas. Wagner cantou o Reno como Camões cantou as suas Tágides. O Rig-Veda estabelece a sacralidade do Ganges como Jesus sagra o Jordão ao ser nele baptizado. Os rios ajudam a compreender a “corrente” da vida. Já lá diz o povo: “são águas passadas”, atestando a mesma imagem. O paralelismo entre a vida de cada um e o fluxo das vidas colectivas nas colectividades em que vivemos – seja a família, a aldeia ou cidade em que vivemos, a mesma nação ou todo o planeta – tem sido traçado por místicos desde a antiguidade. Os Martinistas chamam a esse homem adormecido, que se deixa arrastar pelas paixões e afundar pelos vícios o “Homem da Corrente”. E trata-se de uma imagem simples, não obstante poderosa.

Passar o rio interior para a margem de lá (do consciente para o super-consciente, ou seja da vida física comum para a vida metafísica), é associado na tradição à construção de uma ponte. Aquele que o logra, que na linguagem do Oriente, é capaz de formar um Antakarana e passá-lo, é um construtor de pontes, ou um Pontífice (Ponte+fecit). Um verdadeiro Hermes realizado. Para lá das águas do Rio (cujas águas prefiguram a memória ancestral), está a morte física, mas o renascimento espiritual.

Resta deixar a recordação de uma antiga lenda, ligada a outro Rio português, relato que inspirou, entre outros, Almada Negreiros. A cidade da Ponte de Lima é lugar de travessia medieval de grande importância, ponto de passagem obrigatório no Caminho de Santiago português. Nas suas margens muitas das famílias originais da Portugalidade assentaram e muitos solares e elaborados brasões ainda hoje olham altivamente o forasteiro. Mas houve um tempo em que não havia ponte. Quem passava o rio de barco, fazia-o com o risco da própria vida. Dizia-se que não regressava. Nessa época o rio chamava-se Letes. Afirmavam os antigos que quem o passasse perderia de imediato a memória ao chegar à outra margem. O simbolismo é aqui perfeitamente canónico. Não só a passagem do rio representava o enfrentar dos medos ancestrais (e logo do Plano Astral), como o bom termo da tarefa estava ensombrado pela perda da memória (o enredar do caminho no labirinto Mental). Diz-se que a lenda foi vencida durante as campanhas Romanas. Citemos o próprio Almada Negreiros: “Comandadas por Decius Junius Brutus, as hostes romanas atingiram a margem esquerda do Lima no ano de 135 a.C. A beleza do lugar fez julgarem-se perante o lendário rio Letes [referido por Estrabão], que apagava todas as lembranças da memória de quem o atravessasse. Os soldados negaram-se a atravessá-lo. Então, empunhando o estandarte das águias de Roma, o comandante chamou da outra margem a cada soldado pelo seu nome. Assim lhes provou não ser esse o rio do esquecimento.”

O Rio que nos ocupará neste “Traçado” será o Douro. Iremos concentrar-nos em alguns tramos apenas, por manifesta falta de espaço e tempo numa conferência como esta. Faremos um pequeno périplo por alguns lugares e recordaremos histórias e mitos a seu propósito. A corrente do Rio faz reluzir miríades de agulhas douradas quando é batida pelo sol da tarde serena. Façamo-nos ao Rio. Façamo-nos ao Mito.

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Os Mitos e os Ritos

Ao longo da descida do Douro, da nascente até à foz, serão abordados alguns dos mais persistentes e misteriosos mitos relacionados com os lugares Rio abaixo. Entre eles, contam-se:

O Arcanos da História, recordando alguns dos Arcanos Maiores que podemos encontrar ao longo da história de Portugal;

O Mito de Io e os Gémeos;

A Ordem Secreta de Porugal (Ordem de Mz) e as Famílias que a implementaram no terreno, preparando a independência e mais tarde as Descobertas;

Traços visíveis da Ordem de Mz desde muito cedo;

Os Templários em Trás-os-Montes e a linha de defesa de fronteira;

A velha questão do nascimento de Afonso Henriques;

Ansiães e São Lourenço;

Os Caretos transmontanos, suas origens, ritos e repercussões;

Sé Catedral do Porto – O Bispo Iniciado.

Este trabalho procura ser um ponto de partida e não uma tese explicativa de uma realidade oculta. Trata-se tão somente de, aproveitando a influência que o Douro exerce nos povos da sua bacia hidrográfica, fazer um itinerário onde se coligem lendas, histórias, mitos, ritos e peças etnográficas que nos ajudam a conceber uma ideia porventura mais ampla dos homens, da história e dos seus motores.

Luís de Matos, Lua Cheia de Gémeos de 2010

[Texto que resume os assuntos abordados na Conferência de dia 22 de Maio na Comunidade Portuguesa de Eubiose]

Fons Vitae

Pois bem, ontem tive o grande prazer de apresentar o meu trabalho “Fons Vitae – Calix Maris – Os Arcanos do Douro da Nascente até à Foz” na Comunidade Portuguesa de Eubiose, perto de Sintra. E foi um prazer porque é sempre gratificante falar para uma plateia que não somente entende cada palavra e cada subtileza do que dizemos, mas que igualmente contribui para completar as nossas carências em algumas áreas (falei sobre muitos assunto de que sei pouco!), sempre com um largo sorriso e um tom encorajador. Dá vontade de prosseguir o estudo que ali me levou. Dá vontade de procurar mais fundo e mais além, de modo a encontrar os traços fugidíos da nossa história desconhecida.

Foi também muito bom ter a presença de muitos amigos, o que nem sempre é possível. Num dia quente e a pedir outros destinos, desistir de um passeio junto à praia, ou na Serra, para estar umas hora fechado numa sala a ouvir aquele gajo que já se ouviu tantas vezes, é uma demonstração de estima e amizade que saberei retribuir. Gracias compañeros!

Ao longo dos próximos dias irei deixar aqui alguns excertos da conferência, que será publicada mais adiante – na sua totalidade – pela Comunidade Portuguesa de Eubiose. A seu tempo daremos notícias.

Finalmente quero assinalar a abertura do site do IHS Hermetic Institute. Poderão vè-lo aqui: IN HOC SIGNO HERMETIC INSTITUTE.

Um ossito para roer comigo

 

Ainda nesta Viagem Iniciática ao umbigo de Portugal para preparar a minha Conferência de dia 22 de Maio na Comunidade Portuguesa de Eubiose no Algueirão (Sintra), dei de caras com um brasão muito interessante. Estou muito longe da minha biblioteca, por isso não tenho acesso a listas de famílias e brasões. Na internet desconheço um site que me possa ajudar. Por isso decidi recorrer aos meus leitores.

Algum de vocês sabe a que famílias pertence cada um dos dois quartéis que estão reproduzidos acima? O primeiro parece consistir de cinco folhas de carvalho ou de figueira (Carvalho, Figueiredo?); já o segundo parece ter cinco estrelas de oito raios. Em tímbre temos o que parecem dois ramos de carvalho cruzados. De momento não faço a menor ideais de que famílias estamos a falar nesta parte do brasão! Alguém pode ajudar? Vamos roer este ossito juntos?

Mais um grande dia

Que grande gozo tem sido esta exploração dos lugares de origem de Portugal e das famílias secretas que serviram o propósito de manter a retaguarda bem firme e a coberto! É com cada surpresa!

Logo do primeira vez que por aqui andei com esse propósito, nessa altura na companhia de um bom amigo também desta região Transmontana, pudemos comprovar como a toponímia é certeira e como raramente nos enganamos. Lugares com nomes associados à Alquimia têm uma anormal ocorrência de ermidas e capelas dedicadas a Santa Bárbara. Já São João está associado a inúmeros locais onde se encontram traços da Ordem do Templo. Há que estar atento, claro. Nem sempre o nome se manteve inalterado a centenas de anos de uso. Por vezes há que conhecer as regras da Cabala fonética, para soltar o que se esconde por detrás de topónimos aparentemente normais, como Carrazeda, Mogadouro e Argozelo, entre outros. Mas há aqueles que resistem a qualquer tentativa de descodificação. O que dizer de Lamas de Orelhão, por exemplo?

Esta terceira recolha que faço destina-se a dar mais solidez à minha Conferência de dia 22 de Maio na Comunidade Portuguesa de Eubiose, no Algueirão (Sintra). Peço aos meus amigos que não faltem. Prometo não defraudar as espectativas. Creio que será uma tarde muito interessante. Afinal, não somos só Tomar, a Batalha ou Fátima!

(na foto: entrada no Castelo Templário de Algoso)

De Viagem Mais Uma Vez

No dia 22 dou uma Conferência na Comunidade Portuguesa de Eubiose. Como o livro sobre Maçonaria só é lançado na semana seguinte, a 28 de Maio, decidi que o tema seria diferente.

Inicialmente pensava falar sobre Sinarquia. Não haveria melhor lugar. Mas esse foi o tema superiormente tratado pelo Dr. Olímpio Gonçalves num trabalho onde fala igualmente dos Templários – hoje disponível para membros e visitantes da Comunidade numa publicação em papel – e voltar a ele seria inevitavelmente ter de pisar muitos dos mesmos passos num assunto tão interessante, mas tão raramente tratado, quer em livro, quer em conferência. Tenho a aspiração de um dia – talvez não muito longínquo – fazer um colóquio sobre a Sinarquia onde se possam escutar os trabalhos de vários autores. Talvez então se desperte o interesse do público em geral para o tema.

Procurei então enveredar por algo novo, que não estivesse ainda feito e que fosse o mais possível um meio de falar um pouco do contributo único da Eubiose para a compreensão de alguns assuntos iniciáticos. Eles são tantos que acabei por escolher o tema da Portugalidade e da Alma Lusitana, entroncando-o nas pesquisas que me levam todos os anos a Trás-os-Montes e de que dei um exemplo aqui.

De facto, compilar algumas das informações que entretanto juntei e algumas perguntas que me surgem, explorando possíveis respostas, pode resultar num trabalho interessante. Tem-se publicado muito sobre o tema do dito “Portugral”, ou seja, da predestinação de Portugal para as Descobertas e da história misteriosa que envolve algumas das suas figuras magnas. Em minha opinião os livros têm-se copiado muito entre si e poucos factos novos surgem, ou quando surgem , falta a arte de saber perceber o que significam e como mudam eles os pressupostos que sempre tivemos sobre a nossa origem como país e a nossa missão no mundo. Tão pouco serei eu quem o possa esclarecer, mas penso ter uma perspectiva nova, diferente e interessante acerca do tema. Assim se verá.

Estava eu a procurar um nome (ainda não tenho o título final) e a rever as fotos que fui fazendo ao longo deste tempo, quando o meu amigo Cristóvão, começando a puxar-me pela língua, me levou a concluir que este trabalho ficaria muito incompleto se abordasse apenas Trás-os-Montes. Acabou por me persuadir a estender o âmbito do investigação e, logo ali, terminei não com um problema (esta conferência que se aproxima), mas vários! Acabei por me comprometer a escrever 9 (sim nove!) livros sobre os três principais Rios ibéricos que moldaram a nação e a sua influência iniciática em diversas épocas. Cada Rio terá três “viagens”, correspondentes a três momentos ou mesmo segmentos geográficos (ainda não sei). Ou, no mínimo, três grossos volumes em três partes, o que vai dar no mesmo. Com a complicação que é a minha vida profissional, cheia de viagens e três centros de actividade (Madrid, Nova Iorque e Lisboa, esta mais esporádica), estou a ver que terei de retirar muita inspiração de modernos terminais de aeroporto onde inevitavelmente acabarei por escrever a maior parte do trabalho. E isto já para não falar na recolha de elementos e trabalho de campo. Com o Douro, já lá vão dois anos (do lado de cá e do lado de lá da fronteira), com alguns milhares de quilómetros. Agora é só acrescentar o resto…

Deste modo, porque algumas das fotos que fiz não estão suficientemente boas para a Conferência de dia 22 e porque há alguns sítios que entretanto chamaram a minha atenção que necessito fotografar, parti este fim de semana para o Norte e comecei hoje pelo Porto, na Sé Catedral (os cláustros na foto acima). Já há uns anos que lá havia passado e com um olhar menos “clínico” houve logo coisas que me chamaram a atenção, nomeadamente uma sala em particular. Pude hoje confirmar que a intuição de então estava certeira. Compreendo hoje a obra feita por mais um dos obreiros caridosos na Nação Lusa de que os livros falam de passagem. O que aquelas paredes viram é-nos vedado. Mas intui-se bem pelos elementos simbólicos gravados no lugar.

Amanhã sigo em busca de uma lenda de Gémeos próximo de Mirandela. Talvez ainda lá estejam as marcas que o povo referia há menos de um século. E pela tarde quero ver se percebo a proximidade de Balsemão e da sua Senhora (obrigado Cristóvão mais uma vez pela explicação acerca da origem do nome) a uma lendária torre próxima que marcava o lugar onde uma família das mais ilustres da região se radicou ainda no tempo de Afonso Henriques. Toda a toponímia circundante nos fala de ilustres homens que terão conhecido a Terra Santa, quer em campanhas, quer por ser essa a sua origem. Nomes como “(…) dos Cavaleiros”, “Malta”, “Chacim”, “Gibelim”, entre outros, são disso mesmo testemunho. De tudo isto irei falar na Conferência.

Talvez a parte que mais interesse desperte é a que fala da nossa Tradição Iniciática milenar, a dos Caretos de Trás-os-Montes, reminiscência ancestral dos Nephilin vetero-testamentários. Terra de gigantes? Veremos. Se a viagem correr bem (quero regressar a Lisboa na 4ª feira) teremos muitas coisas interessantes para ver (mesmo vídeo) em projecção no dia 22.

Se alguem tiver sugestões de lugares a visitar, não hexite!