1. O HORROR
Não tenho recordação de nenhuma reportagem feita por uma televisão nacional que tenha tido o impacto de “Segredos Maçónicos” exibida pela RTP1 no seu Linha da Frente a 6 de Fevereiro de 2020. O meu telefone não descansa, o meu mail está cheio, os serviços de messenger estão em overload. Os meus amigos e muitos dos meus leitores querem saber como é que apareci na reportagem e muitos se perguntam o que faço na Nova Maçonaria Portuguesa (assim se apresenta a Soberana, a Grande Loja que abriu as portas às câmaras). Tenham lá calma. Estive no ar 20 segundos!
Talvez seja boa hora de colocar alguns assuntos em dia.
De facto a reportagem é controversa. Mesmo o Grão Mestre da Grande Loja Soberana publicou no site da Obediência uma mensagem de fundamentação de algumas das opções seguidas ao abrir a sua sede, porque mais vale esclarecer e enquadrar do que deixar à imaginação de cada um o que terá a RTP filmado de uma sociedade tão secreta como a Maçonaria! E chamo-lhe controversa pelas reacções, adversas na sua maioria pela parte de Maçons e favoráveis pela parte do público, especialmente do meu público leitor que já está habituado a saber que pouco do que é maçónico fica hoje escondido. Mais sobre isto adiante.
E as reacções surpreenderam-me porque, em quase 30 anos de Maçonaria, já vi reportagens portuguesas dentro de rituais maçónicos, totalmente filmados de ponta aponta (a célebre reportagem da RTP em 1992 no Hotel Estoril Sol em reunião magna da então Grande Loja Regular de Portugal), várias reportagens nos Congressos que por cá se realizaram com acesso à parte litúrgica, até uma reportagem para um canal privado novamente no Estoril Sol em 1996 por ocasião da tomada de posse do Grão Mestre da GLRP. Lá fora então, recordo-me de tudo, desde a reportagem completa da comemoração dos 275 anos da United Grand Lodge of England em 1992 em Earls Court até à mais recente comemoração dos 300 anos com um ritual que teve lugar no Royal Albert Hall em 2017 – tudo filmado, é procurar no Youtube.
Ou seja, a internet veio colocar uma lupa sobre Maçonaria. Não apenas no que respeita às fotografias, livros, rituais, informação verdadeira e falsa, mas igualmente nas plataforma de vídeo como o Youtube ou Netflix e nas redes sociais.
Assim, podemos dizer que há dois tipos de Maçonaria no mundo hoje: as que estão em negação e pensam que podem viver à parte, sem escrutínio, sem que a curiosidade que incentivam com um secretismo mal explicado exija uma abertura à sociedade que dizem querer mudar e as que fizeram uma longa introspecção e, não desejando ser varridas para debaixo do tapete das irrelevâncias históricas e curiosidade museológicas, abraçam o novo mundo e a revolução digital sem comprometer os valores e o direito à privacidade que essa revolução veio por na ordem do dia. E destas, seguramente que a Grande Loja Unida de Inglaterra e algumas Grandes Lojas Americanas têm tomado uma dianteira que iria chocar 90% dos que se me têm manifestado nos últimos dias por causa do Linha da Frente. Quem ficou na estação e viu o comboio partir é capaz de ficar abalado com o título do Irmão David Staples da United Grande Lodge of England.
Um exemplo curto:
Há uma enorme falta de informação e ligação à actualidade. Estamos a ficar para trás. A marcar passo. Outro exemplo do que se faz lá fora:
Então e Portugal? Tem a Maçonaria conseguido fechar portas e manter os Templos e os rituais escondidos?
Como autor, tenho a obrigação de dar aos meus leitores informação fidedigna. Reclinem-se nas vossas cadeiras ou deixem o que se segue para ouvir a caminho do trabalho no vosso telemóvel. É extenso. Não é a primeira vez que a Maçonaria “abre as portas”. A presente Reportagem deve ser comparada com o que já foi feito.
Querem fazer comigo uma viagem à avenida das memórias?
Cá vai:
Avivou a memória? Abrem-se Templos, explicam-se símbolos, fala-se de história, fala-se paramentado, vê-se tudo, mesmo o que devia ficar reservado, vêem-se cadeias de união, rituais, deambulações na Loja, a música é grave e taciturna, tictacteia-se à volta do segredo (Segredo? Não há segredo! Discrição…), há várias organizações e muita gente diferente. Nem tudo é mau. Mas tudo é meio obscuro, fechado e pretérito.
Atenção que isto é um assunto sério! Até hoje a Maçonaria não percebeu que, se quer fazer parte da Sociedade, tem de fazer a sua parte para que a Sociedade a perceba. E a comunicação é chave. Deve ser positiva, diferenciadora e não deve esperar pelo ruído mediático dos escândalos nem ser feita à custa das rivalidades entre Obediências (que o público em geral, naturalmente, não distingue). Assim tem sido a comunicação maçónica nos meios informativos em Portugal.
Quem conhece estes e outros vídeos, como pode estar a mandar-me, logo a mim, mensagens sobre eu aparecer no Linha da Frente durante 20 segundos? Será que há algo mais subversivo no Linha da Frente, que os não-maçons não apanham?
Será, talvez, que haja quem tenha preferência por isto?
Ou mesmo, isto…
É que, caros leitores, na era digital, do Facebook e do Youtube, não são as Obediências Maçónicas que fazem a agenda. O conteúdo sobre elas é criado livremente por quem precisa de vender clicks. E por gente com a mania da perseguição. E por fanáticos. E até, imagine-se, por membros das Lojas! E é por isso que a revolução digital não se pode ignorar, porque não se vai embora. Veio para ficar.
E ficar! Uma história num jornal online fica para sempre e pode sempre encontrar-se googlando. Boa ou má. Certo, certo, encontram-se mais histórias más do que boas. Mas isso acontece porque é aos Maçons que compete divulgar as boas. E eles não o fazem com frequência. A desinformação online sobre a Maçonaria diz muito da formação dos Maçons e da sua incapacidade para enfrentar a realidade. Coloca-se tudo no Facebook. Há milhares de imagens de cerimónias, templos, Lojas em sessão, paramentadas e em pleno ritual. Partilha-se tudo. E mais uma vez a Grande Loja Inglesa vais à frente. É ver aqui e é só seguir o bom exemplo. Mas não… Vamos fechar os olhos a ver se passa…
Suspeito que o HORROR de que falo acima, o que chocou os muitos Irmãos e Irmãs que me enviaram mensagens, mas também o que agradou aos não-maçons, não foi a abertura dos Templos, nem as entrevistas com avental, nem deixar falar os Aprendizes, nem ver-se uma Loja por dentro. O HORROR foi a tal atitude de “Nova Maçonaria”. Foi o perceber-se que a Reportagem não é uma peça orientada, que o que se vê é genuíno, não é preparado, não é um infomercial, não falam só os chefes, há muitas caras desconhecidas e correntes, gente que se cruza connosco na rua e igual a nós. Foi o assumir-se um preço elevado pela iniciação (tabu bem conhecido), deixar explícito que sem dinheiro não há meios (todos sabem disso, mas fica sempre nas entrelinhas – dinheiro?! Que horror!), mostrar-se um leilão solidário (que muitos também fazem à porta fechada), ver-se que não há pudor em convidar um sem-abrigo a jantar e falar, dizer que impacto as acções solidárias tiveram (muitos também as fazem, mas a sandezinha não é transformadora e iniciativas não são obra), foi a falta na Reportagem de Gestores Públicos, autarcas, políticos, deputados, Secretários de Estado, gente emproada que tem por profissão gerir o nosso pecúlio.
Essa nova atitude, corte radical com as imagens históricas que vemos acima e que eram muito boas no seu tempo, é a realização de que de futuro a Maçonaria tem de estar mais próxima do mundo sem comprometer a sua missão espiritual e transformadora, constituída por gente excepcional pelas suas inquietações e leaders no seu metier, mas não comprometidas com lobbies obscuros ou interesses desfasados dos valores Maçónicos e capazes – repito: CAPAZES – de dar a cara e se fazer conhecer como Maçons. A ruptura com o passado pela celebração da história. Isso é o que instiga o HORROR.
Os tempos andaram para a frente mais de 100 anos nos últimos 15. Já nada é igual e quem não evolui, perde-se na irrelevância.
2 – MAS TU ESTÁS NA SOBERANA?
E apesar da defesa intransigente da Reportagem, não, não sou membro da Soberana. Sou autor de vários livros onde tenho publicada a minha filiação de várias décadas ao Rito Escocês Rectificado e, na última década, à Loja Adhuc Stat!, nº5 do Grão Priorado Rectificado de Hispania.
A resposta é não. Basta ver como sou apresentado.
Foi durante as gravações do Podcast “Assunto Sério” da Soberana, para o qual fui amavelmente convidado para falar sobre assuntos como o Quinto Império, a Geometria Sagrada, o Rito Rectificado, etc., como autor (ver aqui, aqui e aqui) que me pediram para dizer umas palavras sobre Maçonaria. Colaborei com todo o gosto, porque sou neutral em absoluto relativamente à Maçonaria Portuguesa, querendo apenas que ela prospere.
Já colaborei em eventos e iniciativas diversas (debates, palestras, cursos, visitas guiadas, apresentações, etc.) com a maioria das cerca de 20 Obediências Portuguesas, designadamente a Grande Loja Regular de Portugal (de que fui um dos fundadores)/GLLP, Grande Oriente Lusitano, Grande Loja Simbólica (ambas), Grande Loja Unida de Portugal, etc. Sou de fora, equidistante, “igualmente amigo do rico e do pobre desde que sejam boas pessoas”, tenho leitores em todas a Obediências, não me meto em assuntos internos, não comento sobre questões litúrgicas. Único desígnio: que a Ordem prospere. SOU INDEPENDENTE. Para quem sabe ler, está tudo dito.
Ora, isso é visível no forma como fui titulado “Escritor/Maçon” face aos outros intervenientes, com os seus aventais, graus e funções bem explícitos:
Finalmente há um plano em que apareço em modo casual, de polo, frente à mesa de som do Podcast, em claro contraste com todos os outros intervenientes.
Parece-me evidente que é implícito que sou um convidado e não falo em nome de ninguém a não ser eu mesmo.
E o que foi que eu disse nos meus 20 segundos de antena?
“Cada vez que um Maçon, de qualquer lado, se mete em negócios escuros, está a meter todo o nome da Maçonaria em negócios escuros. Portanto ele deve ser punido por isso”.
E ainda:
“Nenhuma organização – nenhuma – de nenhum tipo, associativa por exemplo, [como] os Bombeiros de Sintra ou seja quem for, pode assegurar-se que aqueles que são sócios se portam bem. É muito raro – dos casos todos que nós conhecemos – é muito raro haver um conjunto de Maçons que se juntou [com o propósito de] fazer qualquer coisa que é ilegal; porque se tivesse sido assim, teriam sido presos por associação criminosa”.
Ora, esta posição está já expressa no meu livro “Maçonaria Desvendada – Reconquistar a Tradição”, de 2011. Veja-se o que publiquei aqui sobre o caso Loja Mozart a seu tempo. Por isso nada de novo. No mais não tive intervenção.
3 – MAS TU ESTÁS COM A SOBERANA?
Essa é outra questão. Não sou da Soberana, mas estou com a Soberana como sempre estive com todos os ramos da Ordem Maçónica que trabalham para o seu progresso. Sei que há poucos como eu. Não tenho a pele em nenhuma contenda e comparto o pão à mesma mesa com irmãos e irmãs de todas as tendências maçónicas. Quem achar que me tem, desengana-se depressa. Sou livre. Não participo de nenhuma estrutura de poder em Portugal, por isso nada tenho a ganhar ou a perder nas rivalidades. Não são minhas. Onde houver bom e seguro trabalho Maçónico, se o GADU assim entender, eu estarei lá. Assim, estou com a Soberana.
Maçonicamente filiei-me há anos à família Rectificada espanhola por afinidades espirituais e por ter trabalhado como CEO de uma companhia em Madrid muito tempo. Não desejo deixar essa filiação num Regime que me agrada e que entendo como uma jóia excepcional. Mas é esse meu compromisso que me leva a aceitar os diversos pedidos de ajuda e informação, conselho e apoio que me vão chegando de todos os amigos que fui fazendo na Ordem. E por isso, quem estranhe que a minha amizade fraternal com o Grão Mestre João Pestana Dias me leve a acompanhar de perto o seu trabalho e o que a Soberana está a fazer, apenas me deve contactar e convidar-me para os seus debates, Podcasts, visitas guiadas e o mais, que eu lá estarei igualmente com prazer. Não faço descriminações. Sou Independente. Sou largo e pesado e chego para todos! Não vale a pena cenas de ciúmes.
A esta minha atitude fraternal para todas as Obediências, adiciona-se o facto de o Grão Priorado a que pertenço ter assinado um Tratado de Amizade com a Soberana há poucos meses, por iniciativa do seu Grão Mestre Diego Cerrato, que é muito judicioso e prudente nestas coisas e que escrutinou em detalhe a Obediência antes de nos permitir (à Loja a que pertenço) usar as instalações desta para reunir. Já reunimos em outras instalações e nunca tive as perguntas e reacções de surpresa que recebi agora!
Ou seja, não pertenço à Soberana. A Loja – estrangeira – a que pertenço reúnem em espaço gentilmente cedido por esta. Em outras organizações de carácter fraternal em que estou, tenho uma relação próxima com muitas outras Ordens e Obediências que prezo muito. Nas Jornadas Templárias em Lagos do ano passado esteve a meu convite um Grão Mestre Adjunto do Grande Oriente Lusitano e o Grande Conselheiro da maior organização Rosacruciana Portuguesa. Templos e lugares de reunião têm sido gentilmente cedidos por Lojas e Associações que têm Irmãos na sua composição em todo o país para um largo leque de actividades. É ver a minha agenda para ter noção das que são públicas.
4 – A NOVA MAÇONARIA PORTUGUESA
Pois, aqui é que está o nó.
Tal como em todas as situações em que o hábito se sobrepõe à finalidade, há vários incumbentes que vão repetindo padrões de comportamento que os isolam do ambiente em que vivem e os alheiam do desígnio, até que uma formulação disruptiva apareça e venha actualizar os meios e os métodos, repondo a finalidade. Historicamente, os gigantes que não se adaptam encontram a irrelevância e definham lentamente. Em geral os incumbentes combatem os disruptivos em vez de fazerem uma auto-análise e darem um passo em frente. Foi assim que a Igreja acendeu as fogueiras da Inquisição na sua Contra-Reforma em resposta às questões levantadas por Lutero e outros. Quem quer manter o status nem sempre saber reagir e crescer quando muda o “quo”. Mas há notáveis excepções.
Ora, o mundo Maçónico Português é essencialmente composto de incumbentes e cisões de incumbentes por motivos ligados ao hábito (em raros casos, à finalidade), os quais hábitos são transportados para as novas organizações (que rapidamente têm resultados idênticos às antigas).
Na nova edição que estou a prepara do meu livro “Quero Saber – Maçonaria” onde faço uma análise da Maçonaria Portuguesa actual na sua totalidade (fui o primeiro a listar os contactos e dados das 15 Obediências a trabalhar em Portugal à época da 1ª Edição [2013] – hoje devem ser mais de 20), falo das três principais novidades que emergiram nos últimos 7 anos:
- O surgimento do Rito Português e a sua história (não confundir com o Rito Eclético Lusitano do século XIX)
- A tendência de redução do tempo de mandato dos Grão Mestres
- A presença da Maçonaria no mundo Digital, incluindo Redes Sociais
Não vou de momento desenvolver os pontos 1. e 2., anotando apenas que até ao momento, desde o século XVIII, a Maçonaria Portuguesa alinhou-se sempre por dois eixos – divergentes desde o final do século XIX – o eixo Francês, especialmente através das relações fraternais com o Grand Orient de France, ainda hoje uma referência mundial na Maçonaria laica e adogmática, cujo principal exemplo é o Grande Oriente Lusitano; e o eixo Inglês, através das relações fraternais com a United Grand Lodge of England, representado na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP. Ainda assim, mesmo movimentos mais recentes como as Obediências que praticam o Rito de Memphis-Mizraim, bem como a Grande Loja Feminina de Portugal, o Direito-Humano, entro outras, mantêm laços fortíssimos com as suas congéneres francesas. Ou seja, até à criação do Rito Português na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP (que já não o pratica), toda a Maçonaria Portuguesa era… estrangeira…
No que toca ao ponto 3., a evolução deu-se em três períodos e vertentes. Desde logo houve uma desconfiança absoluta das Obediências face aos novos meios e, à parte os entediantes sites institucionais, houve sempre uma presença ausente ou monolítica. Com o surgimento do Facebook e a popularização do Youtube, foram os Maçons (e não as Obediências) que começaram a partilhar conteúdo, muitas vezes de forma indecorosa, mal informada, devassando o direito ao anonimato e à revelia de todos os juramentos ou da simples prudência, não obstante de forma entusiasta e frequente!
Irmãos das mais distintas Lojas e Obediências trocam hoje informação, fotografias, coscuvilhice interna no Whatsapp, Messenger e outros, sem respeito pelas egrégias determinações superiores de “estes são reconhecidos mas aqueles não”. Só mesmo a cegueira voluntária pode explicar que a “lepra maçónica” que está implícita em declarações do tipo “esses não são regulares” ou “esses estão proibidos de ter relações connosco” possa ter qualquer eficácia real no mundo digital de hoje…
Domage! Não há maçon ou Maçona que não tenha amigos e amigas, irmãos e irmãs, em múltiplas Obediências que se degladeiam entre si e fomentam zangas de anos, mas com os quais têm uma amizade sã, fraterna e profícua. Não é infrequente encontrarem-se “profanamente” e cultivarem a fraternidade maçónica fora do mundo institucional, não compreendendo (porque não é de fácil explicação!) porque motivo não podem encontrar-se lado a lado no Templo da Fraternidade Universal. É que hoje reconhecem-se online. Estão em contacto o tempo todo. Têm afinidades maiores do que as diferenças e entendimentos muito próximos sobres os assuntos que lhes interessam. Ou seja, em conclusão, há um mundo ilusório, de convenções e ufania, segregado, isolado, controlado pelas Obediências com os seus Decretos que nem os seus Grão Mestres, em muitos casos, seguem à risca; e depois há o mundo real (com base na comunicação virtual digital) em que a fraternidade global se corporiza, trabalha, age no mundo, se associa e vive, que escapa ao controlo das Lojas.
É este estado de coisas que leva a que, numa terceira fase, algumas Obediências começassem a pensar este assunto muito a sério. Recordo-me de trabalho muito avançado que conheci na Grande Loja de Filadélfia e na Grande Loja de Nova Iorque já em 2009, quando os templos começaram a esvaziar-se e o interesse na reunião cara a cara e depois mais um jantar dispendioso começou a diminuir. Na Europa foi a Grande Loja Unida de Inglaterra que liderou a mudança. Fez estudos profundos e abriu discussões aglutinadoras. Numa visita a uma Loja em Great Queen Street em 2010, habitualmente preocupada com a avançada idade da maioria dos membros, ouvi uma excelente comunicação acerca da renovação dos meios e métodos sem comprometer a integridade do Ritual e da Maçonaria, no sentido de apelar a membros mais novos da comunidade.
Todos este esforços deram resultados. Podem ser consultados nos websites das respectivas Grandes Lojas e uma pesquisa atenta mostrará múltiplas iniciativas de ligação ao mundo através das plataformas digitais, sempre sem comprometer o que é, sempre foi e será a Maçonaria. Do mesmo modo, podem encontrar-se diversos exemplo de referência no âmbito da multimedia, seja no Netflix ou em canais cabo (veja-se Lodge 49 na AMC americana). O Supremo Conselho Americano Jurisdição Sul em Washington deixou de ser monolítico e tem convidado canais de televisão de referência assim como produtoras de longas metragens, autores como Dan Brown e outros, a usarem os seus Templos, Museus, Bibliotecas e Auditórios para eventos. A Grande Loja Inglesa decidiu que a sua sede em Londres, no bairro contíguo ao dos teatros, deveria ser o maior e mais ilustrativo cartão de visita da Maçonaria. Vejam-se alguns exemplos em que o espaço foi cedido a título comercial, abrindo portas.
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Ou:
Mas mesmo os mais conservadores não poderão deixar de admirar a grandiosidade e a segurança nos seus valores – porque é preciso estar-se muito seguro do que se é – da Grande Loja Inglesa ao ceder os seus Templos à Maçonaria Feminina Inglesa – com a qual não tem relações litúrgicas!
Ai se fosse cá!
Notaram seguramente que é o Grande Templo em Londres e que há câmaras a filmar.
Em todas as críticas que ouvi, a vasta maioria vinda de meios Maçónicos que se sentem ultrapassados por uma Obediência que a reportagem caracteriza como “pequena”, “recente” e “não reconhecida”, ressalvam questões (questiúnculas) irrelevantes e já tratadas há muito, como fica demonstrado acima: imagens dos Templos, Maçons de avental, teatralização de passagens rituais (que até estão disponíveis na net), dar acesso aos meios de comunicação, eventos brancos, etc. Nada de novo e nada que Obediência nacional alguma possa objectar em face da prática que tem sido recorrente. Alguma coisa do que constitui o âmago da Ordem foi exposto ou profanado? Não creio.
O que está em causa é uma sensação de ultrapassagem por quem não é um incumbente. Tão só isso.
Não sou da Grande Loja Soberana. Estou com ela, como estou com todas. Convidem-me que eu apareço. Peçam-me que trabalhe para vós, e lá estarei. Sem favoritos.
Agora, meus caros, está na hora de ir trabalhar e mostrar que o Nova Maçonaria Portuguesa se estende por muitas Lojas e Obediências, tirando o simbólico chapéu à Reportagem da RTP. O que é, é.
Trabalhinho de casa bem feito e chega-se longe. Abrir as janelas, deixar sair o ar bolorento e começar um novo dia. Se os incumbentes olharem para a frente sem erguer tapumes e barreiras artificiais onde os seus membros só vêem campo aberto, num instante a Maçonaria Portuguesa recupera o lugar que é seu na sociedade.
Até lá, este é o novo standard.
Basta perguntar ao google.